Tenho
Ponderado serenamente a participação dos praenses (em geral) e dos safendenses (em
particular) no desenvolvimento comunitário. Essa reflexão fez-me recorrer a
algumas bibliografias da disciplina de SIG e Comunidades Locais, para que através
deste artigo tentar dar a minha contribuição, mesmo que modesta.
O
Desenvolvimento Comunitário é um processo tendente a criar as condições de
progresso económico e social para desenvolver comunidades activas e
sustentáveis baseadas na justiça social e no respeito mútuo. Este processo
integra um conjunto de valores e práticas (justiça, equidade,
responsabilização, oportunidade, reciprocidade, participação, capacitação, e ensino
ao longo da vida) que desempenham um papel de destaque no combate à pobreza e
no apoio às populações mais desfavorecidas, através da congregação dos seus
membros em torno de assuntos e problemas comuns, na sua capacitação individual
e colectiva e na promoção de uma participação efectiva (Ander-Egg, 1980; Carmo,
2007; CDF, 2006; Ledwith, 2005).
Numa
perspectiva integrada e mais pragmática, trata-se de activar as estruturas de
poder de modo a remover as fronteiras que impossibilitam a participação das
populações e criar as condições para uma efectiva democratização dos processos
de decisão que envolvem as comunidades locais (CDF, 2006; VCN, 2009).
De
acordo com (Mohan, 2001), ao longo dos últimos anos uma série de organizações,
com diferentes agendas ideológicas e políticas, começaram a envolver as
populações locais nas suas estratégias de desenvolvimento.
É
bom termos em mente que nenhuma organização conhece melhor os problemas duma
comunidade do que a própria comunidade, mesmo que essa organização esteja inserida
na comunidade.
Tendo consciência
disso é fundamental identificar cinco estratégias do desenvolvimento
comunitário (Carmo, 2007):
- O principio das necessidades
sentidas, que defende que todo o projecto de desenvolvimento
comunitário deve partir das necessidades sentidas pelas populações e não apenas
as necessidades consciencializadas pelos técnicos;
- O princípio da participação,
que afirma a necessidade do envolvimento profundo dos membros da comunidade no
seu processo de desenvolvimento;
- O princípio da cooperação,
que refere como imperativo da eficácia a colaboração entre sector público e
privado nos projectos de desenvolvimento comunitário;
- O principio da auto-sustentação,
que defende que os processos de mudança planeada sejam equilibrados e sem
rupturas, susceptíveis de manutenção pela população alvo e dotados de
mecanismos que previnam efeitos perversos ocasionados pelas alterações provocadas;
- O princípio da universalidade,
que afirma que um projecto só tem probabilidade de êxito se tiver como alvo de
desenvolvimento uma dada população na sua globalidade (e não apenas subgrupos
dessa população) e como objectivo a alteração profunda das condições que estão
na base dos problemas da comunidade.
Posto
isso, surgem algumas questões:
- As organizações externas e internas a
nossa comunidade têm procurado saber as necessidades sentidas pela população,
ou têm dado tiros no escuro?
- A
nossa população tem interessado no desenvolvimento da nossa comunidade?
- As
organizações, particularmente as associações e o Centro EA têm incentivado a
maior e melhor participação?
- As
associações e o Centro EA têm chamado as empresas privadas e outras organizações
de cariz privado a participarem nos projectos da comunidade?
- Será
que as nossas associações e o Centro EA não correm riscos de fecharem as
portas?
- Quais
são os nossos principais problemas e que projectos estão em carteira ou em
curso para resolvê-los?
É
claro que não irei responder as minhas questões. Só as fiz para tentar dar uma
visão um pouco mais crítica, mas construtiva, em relação ao desenvolvimento
comunitário. Sim não irei responder, mas vou dar instrumentos para que cada um
matute.
Existem
algumas abordagens que ajudam a sistematizar e a operacionalizar as principais
questões relativas ao desenvolvimento comunitário.
Modelo ABCD – Achieving Better Community
Development. (Barr & Hashagen, 2000; The-
Scotish-Government, 2007).
Um
exemplo desse tipo de abordagem está presente no Modelo ABCD – Achieving
Better Community Development, proposto pelo Scottish Community Development
Centre (Barr & Hashagen, 2000), que fornece um enquadramento geral aos
processos de planeamento, avaliação e aprendizagem das intervenções de
desenvolvimento comunitário (Figura em cima), e que assenta nos seguintes
pressupostos (CDF, 2006; The-Scotish-Government, 2007):
- Todos aqueles implicados numa estratégia
de desenvolvimento comunitário desde políticos, gestores, financiadores,
profissionais, voluntários e membros da comunidade deverão participar
activamente no processo;
- Os métodos e critérios de avaliação
deverão reflectir as motivações e objectivos de todos os participantes;
- A avaliação deverá constituir um
elemento essencial do desenvolvimento comunitário, que conformará continuamente
o planeamento e a acção;
- Deverá ser dada particular atenção à
capacitação (empowerment) das comunidades e às alterações resultantes na
qualidade de vida dos membros da comunidade;
- A vida comunitária deverá tornar-se mais
satisfatória, sustentável e justa.
A
abordagem ABCD sugere que o planeamento e a avaliação são cruciais para o
desempenho efectivo e que as actividades de desenvolvimento comunitário a
avaliação deverão ser conduzida pelos próprios membros da comunidade deste
modo, é possível alcançar uma visão partilhada sobre as alterações que deverão
ter lugar e o modo como deverão ocorrer.
O
desenvolvimento comunitário faz-se com acção com vista à melhoria da qualidade
de vida de uma comunidade. Comprometo-me a publicar um artigo, dentro em breve,
a respeito do desenvolvimento comunitário e gestão de informação.
Faço
questão de terminar com uma questão:
Será
que nós (safendenses) temos ajudado na melhoria de qualidade de vida dos
habitantes da nossa comunidade?
Texto:
Altino FERREIRA
Fontes:
·
Ander-Egg,
E. (1980). Metodologia y Practica del Desarrollo de la Comunidad (10
ed.). Tarragona: UNIEUROP.
·
Barr,
A., & Hashagen, S. (2000). ABCD Handbook: A framework for evaluating community
development. London: Community Development Foundation.
·
Carmo,
H. D. A. (2007). Desenvolvimento Comunitário (2 ed. Vol. 184). Lisboa: Universidade
Aberta.
·
Curvelo,
P. (2009). SIG e comunidades locais. Lisboa: Universidade nova de Lisboa.
·
Ledwith,
M. (2005). Community Development - A critical approach. Bristol: Policy
Press.
·
Mohan,
G. (2001). Participatory development. The Arnold companion to development
studies. London, UK, Hodder: 49-54.
·
The-Scotish-Government. (2007). Building Community Capacity.
Resources for Community Learning & Development Practice. Retrieved 29.10.2011,
from http://www.scotland.gov.uk/Resource/Doc/206381/0054848.pdf