"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, (…). O que mais preocupa é o silêncio dos bons."
Martin Luther King
“O vosso silêncio mata-nos”. Essa foi uma das mensagens-grito que preencheram os cartazes empunhados pelos manifestantes na martirizada Síria, que saíram às ruas por um governo mais amigo do povo, e que continuam resistindo corajosa e pacificamente contra canhões e tanques, para defenderem a VIDA!
Pessoalmente não gosto da palavra “mata”; das poucas recordações que tenho da minha avó materna, lembro-me aquando das nossas brigas infantis, entre primos, em que um de nós sussurrava essa palavra, estava ela incansavelmente a ensinar “mata ca ta flado”. A minha mãe não cansa de nos dizer “mata ca ta flado“.
A cidade da Praia, tempos atrás, resolveu brincar de “odja flanu mata la”. Aconteceu que um adolescente do meu bairro ao reparar que eu não utilizava essa “brincadeira” perguntou-me o porquê. Não tive outra resposta senão a que minha a mãe copiou da sua mãe “mata é sujo, mata ca ta flado”.
Dizia eu, não gosto desta palavra! Mas esse desabafo começa precisamente por esta expressão, usando esta palavra, pois no contexto em que foi empregue no cartaz a que me referi é significativo. Incrivelmente apelativo! O manifestante, ante a opressão orquestrada por quem os devia proteger, ciente de que a comunidade internacional “os menos de 50 – por excesso - que decidem por nós, os outros mais do que 6 bilhões de humanos que supostamente devíamos nascer todos iguais em direitos independentemente dos dispensáveis que é por todos conhecido”, pode fazer algo, pede uma acção. Pois essa mesma comunidade internacional, parece, resolveu fazer a siesta, perante a situação. Tocou o sino das 6h. Despertem senhores!
Na nossa Praia, uma simples estatística mostra que quase todos os dias alguém (des)gasta serviços do hospital e todos os seus acessórios (soro, gazes, seringas, etc, ), sem falar dos stress do pessoal médico, não por causa de doença “normal” ou acidente por fatalidades mas porque alguém sem razão resolveu experimentar: se pedras são mais duras do que cabeça de alguém; se garrafas podem cortar; ou ainda porque alguém resolveu saber até onde para uma bala quando disparada! Na melhor das hipóteses ficam cicatrizes e os gastos enunciados atrás. Outras vezes, e não são poucas, é o valor maior que se perde – a VIDA! Horas depois, todos lamentamos, às vezes esses lamentos duram dias mas… logo cai no esquecimento e o círculo se faz, e se refaz…! Os protagonistas desses terríveis episódios são, invariavelmente, com poucas excepções, adolescentes e jovens com até 30 anos.
Algumas pessoas, por vezes apelidadas superficialmente de “ca tem cusa fazi”, nos bairros tentam teimosamente fazer o que é possível com o que existe. Escusado será dizer que essas pessoas sabem, até muito bem, o que querem e que essas pessoas têm “munti cusa fazi”. Há consciência de que muitos poderiam enfileirar-se nesse “exército” cuja missão poderá simplesmente ser pela consciencialização e responsabilização dos 2/3 dos habitantes desse país. Slogam mor: A violência é um fracasso, uma derrota para todos!
Os jovens em Cabo Verde se bem cuidados podem ser mais do que aparentam ser hoje. Em cada jovem há uma esperança! Uma energia a ser canalizada para o desenvolvimento harmonioso de “nos Cabo Verde di Speransa”. Mas preferem assumir que estas pessoas não têm solução e fazer noite longa de sexta, sábado acordar numa praia de mar distante e no domingo queimar combustível pelo interior! Desde que não atingidas directamente ou nos familiares mais próximos, não é nada com eles!
Quantas pessoas, digo eu, bem colocadas socialmente, poderiam dar uma mãozinha na luta pela promoção da paz e uma cultura de não-violência na Praia e em Cabo verde? Conforme o nosso grito de optimismo, só faz falta quem está! Conscientes de que todos juntos poderíamos vencer em 10 anos, concentramo-nos de que, sem os outros, iremos vencer em 20 anos! Uma Praia e um Cabo Verde melhor iremos entregar aos nossos filhos! Disso não temos dúvidas! Ao menos eles saberão que quando tivemos de enfrentar o “fenómeno estranho” preferimos arregaçar as mangas ao invés do conforto do ar condicionado e das noitadas e dos “fim-de-semanadas”, muitas vezes na mascadjon.
Por cada jovem agredido, por cada pessoa que é ferida colateralmente, por cada VIDA dramaticamente perdida em Cabo Verde…a mensagem do manifestante da massacrada Síria traduz-se na minha mente… o nosso silêncio mata-lhes! Pura e simplesmente! O meu silêncio… o teu silêncio… O nosso silêncio mata-lhes! Gentes das ilhas, já passou a hora em que todos e cada um deve pensar e fazer algo. Pois, todos temos de responder à pergunta essencial: onde está o teu irmão? Que fizeste?
Dino