quarta-feira, 18 de julho de 2012

PENSAR A POLÍTICA EM VOZ ALTA


Não é da minha pretensão fazer dessa reflexão uma encíclica, que de tão solene amordaçaria até os mais apaixonados pela leitura. Aqui deixarei as minhas opiniões (de certo que não agradarão a todos), com objectivo único de fazer matutar sobre o tema, na medida em que se depara com uma descrença, quase que generalizada na classe política.

Tenho observado com muita frequência nos cafés, nas redes sociais e de comunicação e até entre os políticos o repudio pela palavra PODER, quando esta se aplica a política. Há muita gente que quer fazer parecer que na política não se deve lutar pelo poder, mas sim que a política é uma forma altruísta de participação no desenvolvimento das sociedades.

Quanto a mim parece lógico que se lute pelo poder e, analisando bem, se tirarmos o poder da política de certo ficaria outra coisa, que nem de perto nem de longe seria política. Na realidade o ofício de lutar (oposição) e exercer (governo) o poder é denominado de política.

Qualquer um que respeita o Estado de direito democrático, deve na mesma medida respeitar a legitimidade de qualquer cidadão candidatar pelo poder, até mesmo porque não sou de todo contra a ideia de Tomás Eloy Martinez de que a história é escrita pelo poder, a partir do poder, a serviço do poder e que romances servem para questioná-lo.  


O poder não se procura e nem se obtém apenas para possuí-lo ou para dele tirar proveito pessoal. Ambiciona-se e conquista-se o poder para exercê-lo, ou seja, para governar e é só através do governo que se executam programas ou projectos, é que se põem em prática certas ideias, é que se fazem respeitar dados valores e interesses.

Assombra-me também as ideias descabidas de alguns ditos intelectuais, que por uma razão ou outra acreditam que resolver, nada resolve e que, coisa alguma altera numa mudança. Essa afirmação pode parecer confusa, mas clareia-se quando lembro de algo que uma pessoa escreveu a alguns anos num dos jornais impresso. Lembro-me de ter lido que deixou de votar desde 95 e, de uma forma muito agradável fez a ilustração de uma senhora que estava sentada a vender bananas, para dizer que depois da eleição a senhora (vendedeira) não deixaria de vender naquele local. Concluiu dizendo que por isso (porque o voto não muda nada na vida das pessoas) não adiantava votar.

Não tenho nada contra ideias assistencialista ou socialista, mas o facto é que essas ideias poderiam endireitar se pensasse que não votar também não tira ninguém das ruas. 
A decisão de não votar pode parecer para muitos, uma sábia ideia, mas o facto é que não é. Na realidade são decisões baseadas em ideias curtas e de pouca reflexão, sendo que, queiramos ou não todos são influenciados pelas decisões dos políticos. A única certeza que podemos ter quando não votamos é de que seremos governados por pessoas que não escolhemos. Se todos analisarem bem a desgraça dos que não se interessam por política é de serem governados pelos que se interessam.  

A política não é a única via de participação no desenvolvimento duma sociedade ou de uma comunidade. Pode-se contribuir também participando nas acções religiosas, associativas, desportivas entre outras. É claro que a política é a forma mais efectiva de contribuir, sendo que, é através dela que se adquire o poder de decisão.    

O facto de existirem na política pessoas despidas de valores, não constitui razão para dela não participar, até mesmo porque, pessoas dessa índole encontraremos também nas associações, religiões e organizações de cunho social. 

O que não se deve esquecer na política é que ela é de natureza competitiva, semelhante a outras actividades humanas como o desporto, a economia e a guerra. A semelhança dessas actividades a política é uma luta, em que uns ganham e outros perdem, mas sem que os resultados de cada confronto sejam definitivos. Essa realidade é muitas vezes esquecida por alguns que quando vencem fazem de tudo para humilhar o colega, o vizinho, o amigo e até a família, esquecendo que na política a alternância é algo incontornável.

Como safendense que sou preocupa-me a fraca participação dos meus amigos e vizinhos na política. Como já tinha dito, a política é a forma efectiva de contribuir para o desenvolvimento das sociedades e das comunidades, por isso anseio pelo dia em que safendenses terão o poder de decisão. 


Altino FERREIRA