“A delinquência juvenil
tem-se tornado num problema muito grave e com consequências preocupantes na
sociedade nos últimos anos. Em grande parte dos espaços públicos, foram
instaladas câmaras de vigilância, com o objetivo de combater o crime”.
A população vive
com o credo na boca. O sossego parece já fazer parte da história. Os
tribunais conhecem cada vez mais casos de furto, posse de armas e de drogas,
agressão e abuso sexual praticados por jovens que ainda não atingiram a idade
adulta.
O fenômeno é global e antigo, mas, em Cabo
Verde ganhou um termo próprio “kasubodi” praticado pelos denominados “tugs” e
não só.
A delinquência juvenil é o resultado da
combinação de vários fatores de risco e de falta de respostas em termos
socioeconómicos. Ela ocorre em todas as sociedades, onde os valores negativos
de violência, agressão, competição acirrada e o consumo, se encontram impostos
sobre os valores supremos da sociedade, como a tolerância, a solidariedade e a justiça.
Os comportamentos antis-sociais praticados
por menores que se presencia no país continuam na ordem do dia dos Safendenses e,
aparentemente sem um fim à vista.
Talvez por existir cada vez mais
informação sobre as práticas destes jovens, na sua grande maioria inadaptados
ou simplesmente necessitados de bens essenciais, aparecem agora vozes que
tentam sensibilizar a opinião pública para a solução desta questão, tarefa
tremenda quando não existe vontade nem sensibilidade por parte dos sucessivos Governo
e das outras instituições competentes.
No segundo encontro do Conselho de
Governança Comunitária, realizado no passado 13 de novembro, em Alto Safende o
comandante Luiz Barros, definiu a Segurança como sendo um estado de normalidade
que permite um ser humano usufruir dos direitos enquanto cidadão.
“Temos vários problemas ligados a questão
de segurança, e até este momento posso dizer que falar da segurança é falar de
insegurança, isto porque, nunca vamos conseguir viver numa segurança plena”
sublinhou o Comandante.
Neste seguimento, o mesmo disse que não se
pode falar da Segurança sem falar da violência e da Criminalidade, uma vez que
são três aspetos que coloca em causa a normalidade da sociedade.
No que diz respeito as causas que motivam
a criminalidade, o mesmo sublinhou a pobreza, a exclusão e desigualdade social,
falta de oportunidades, ganancia, a impunidade, o desemprego, abandono escolar,
fácil acesso as armas, vida de cidade e entre outras.
Educadores explicam o
Segundo a mãe e educadora Marlene Barbosa
“os adolescentes, geralmente, acabam por tomar atitudes por conformismo ou
obediência, ou seja, por pressão social direta ou indireta do grupo a que
pertencem. Uma pessoa acaba por mudar o seu comportamento para seguir as
crenças e os valores desse mesmo grupo”.
Marlene Barbosa explica ainda que “nestes
casos, na educação de todos os seus filhos sempre tentou resolver as coisas da
melhor maneira, sem pressionar, porque no início o adolescente acha que está a
ter os comportamentos corretos, e se o pressionarmos ou tentarmos resolver as
coisas de uma forma menos correta, pode originar a revolta do adolescente, e só
piorar as coisas”.
De acordo com Cardoso (2012) “à força de
tanto presenciarem comportamentos recrimináveis pela sociedade (tráfico de
droga, resolução de conflitos com recurso à agressão, furto, delinquência
juvenil), os pré-adolescentes oriundos de meios problemáticos têm uma grande
dificuldade em falar do bem, ou de sequer tentar seguir outro caminho que não o
da criminalidade”.
Para a psicóloga Maria Gomes “na
delinquência juvenil o principal foco é o indivíduo e a compreensão dos seus
comportamentos. Delinquência juvenil é comportamento antissocial, ou seja, todo
o comportamento em que o indivíduo viola as normas do sistema social. Não
aceita os códigos de conduta e de ética que a sociedade exige e trata de fazer
cumprir”.
Maria Gomes salienta que “podemos dizer
que quando um indivíduo tem pouco controle do seu problema, e tem mais
probabilidade de passar para a delinquência juvenil”.
Para a psicóloga, a família tem um papel
relevante nesse conceito porque se ela for desestruturada, onde não existe
respeito pelos pais ou um clima de afeto, maus tratos, isso condiciona para com
essa criança se possa tornar num jovem sem orientação dentro da família e nem
preparada para lidar com os seus problemas acabando por procurar lá fora mecanismos
de satisfação.
Maria Gomes aconselha aos que lidam com os
adolescentes a ter grande atenção. “Não vale a pena reprovar a maneira de
vestir ou de pentear do adolescente; não dizer ao adolescente que tem maus
colegas, não vai mudar de opinião relativamente aos seus colegas, pelo
contrário, protege-os. Nunca se deve argumentar, dizendo que o adolescente em
grupo faz coisas que sozinho não teria coragem de fazer”.
A delinquência atinge, seu ponto máximo
entre os 13 e 15 anos de idade, pois, é um período no qual o menor tende
particularmente a se relacionar com os outros colegas da mesma idade na qual se
sente desafiado a praticar tudo o que os outros fazem para se sentir igual aos
outros. A sociedade cabo-verdiana vive uma geração em que existem inúmeras festas
onde proliferam as bebidas alcoólicas e, muitas vezes drogas.
Maria Gomes conclui chamando a atenção
para a influência dos grupos em que se está inserido e que muitas vezes
influencia os comportamentos que o indivíduo. Nem sempre as decisões ou
atitudes que os adolescentes tomam, são por vontade própria, na maioria dos
casos são influenciadas pelos amigos. Existem, também, casos em que estas
decisões ou atitudes são obrigadas.
Vítima na primeira pessoa
Cristina Pereira afirma que foi assaltada
2 vezes nos últimos dois meses, à luz do dia. Acrescenta que desde então, teme
por andar na rua com medo do que lhe possa acontecer. Considera que quase
nenhuma zona da cidade da Praia é segura para se andar à noite por causa da
violência e dos assaltos.
A crescente criminalidade e a impunidade
têm como uma das consequências mais visíveis a sensação de insegurança e de medo
na população que, cada vez mais, busca mecanismos próprios de proteção: grades
nas janelas, portas trancadas, carros blindados, armas de fogo e sistemas de
segurança privada fazem parte do quotidiano de uma parcela da população que
busca se proteger a todo custo.
Esta forma de vida tornou-se numa espécie
de rotina. Há coisas simples, mas também há situações complexas. E o combate à
criminalidade é uma dessas situações complexas.
A delinquência juvenil é mais um desafio, a que os cabo-verdianos terão
de continuar a enfrentar nos próximos tempos.
O jovem Wily Lopes, diz que não é de
estranhar os atos de criminalidade no bairro, sendo que que há presença de
muitas caras estranhas nunca visto antes, em que alguns são dos bairros. O entrevistado
relata a preocupação em aumento de “kasubodi” principalmente em arredores de
monte Gazela e arredores de chafariz, nunca antes visto.
Afinal de quem é a responsabilidade? As
famílias? Ao governo, ou a sociedade?
A recuperação
Emerson Correia (nome
fictício), um jovem de 25 anos, que há dois anos era visto como um delinquente,
resolveu mudar de vida para se tornar numa pessoa melhor, buscando a melhor
forma de corrigir os seus erros para dar à sua mãe orgulho de lhe ter como
filho. Emerson afirma que ele é uma das vítimas da sociedade machista, que
todas as suas irmãs se tornaram boas mulheres com bons resultados escolares
porque tiveram pressão dentro de casa. “Eu sempre não tinha pai dentro de casa
e nem presente na minha educação e quem mandava em tudo era eu”.
Lembre se, esta
semana o bairro de Safende teve equipa do Policiamento Comunitário no terreno
para o mapeamento das zonas de risco no bairro e identificar as possíveis
causas do crime nessas áreas.
EMarlize
Borges