quinta-feira, 20 de setembro de 2012

DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO


Tenho Ponderado serenamente a participação dos praenses (em geral) e dos safendenses (em particular) no desenvolvimento comunitário. Essa reflexão fez-me recorrer a algumas bibliografias da disciplina de SIG e Comunidades Locais, para que através deste artigo tentar dar a minha contribuição, mesmo que modesta.

O Desenvolvimento Comunitário é um processo tendente a criar as condições de progresso económico e social para desenvolver comunidades activas e sustentáveis baseadas na justiça social e no respeito mútuo. Este processo integra um conjunto de valores e práticas (justiça, equidade, responsabilização, oportunidade, reciprocidade, participação, capacitação, e ensino ao longo da vida) que desempenham um papel de destaque no combate à pobreza e no apoio às populações mais desfavorecidas, através da congregação dos seus membros em torno de assuntos e problemas comuns, na sua capacitação individual e colectiva e na promoção de uma participação efectiva (Ander-Egg, 1980; Carmo, 2007; CDF, 2006; Ledwith, 2005).

Numa perspectiva integrada e mais pragmática, trata-se de activar as estruturas de poder de modo a remover as fronteiras que impossibilitam a participação das populações e criar as condições para uma efectiva democratização dos processos de decisão que envolvem as comunidades locais (CDF, 2006; VCN, 2009).

De acordo com (Mohan, 2001), ao longo dos últimos anos uma série de organizações, com diferentes agendas ideológicas e políticas, começaram a envolver as populações locais nas suas estratégias de desenvolvimento.

É bom termos em mente que nenhuma organização conhece melhor os problemas duma comunidade do que a própria comunidade, mesmo que essa organização esteja inserida na comunidade.

Tendo consciência disso é fundamental identificar cinco estratégias do desenvolvimento comunitário (Carmo, 2007):
  1. O principio das necessidades sentidas, que defende que todo o projecto de desenvolvimento comunitário deve partir das necessidades sentidas pelas populações e não apenas as necessidades consciencializadas pelos técnicos; 
  2. O princípio da participação, que afirma a necessidade do envolvimento profundo dos membros da comunidade no seu processo de desenvolvimento;
  3. O princípio da cooperação, que refere como imperativo da eficácia a colaboração entre sector público e privado nos projectos de desenvolvimento comunitário;
  4. O principio da auto-sustentação, que defende que os processos de mudança planeada sejam equilibrados e sem rupturas, susceptíveis de manutenção pela população alvo e dotados de mecanismos que previnam efeitos perversos ocasionados pelas alterações provocadas; 
  5. O princípio da universalidade, que afirma que um projecto só tem probabilidade de êxito se tiver como alvo de desenvolvimento uma dada população na sua globalidade (e não apenas subgrupos dessa população) e como objectivo a alteração profunda das condições que estão na base dos problemas da comunidade.

Posto isso, surgem algumas questões:
  1. As organizações externas e internas a nossa comunidade têm procurado saber as necessidades sentidas pela população, ou têm dado tiros no escuro?
  2.  A nossa população tem interessado no desenvolvimento da nossa comunidade? 
  3. As organizações, particularmente as associações e o Centro EA têm incentivado a maior e melhor participação?
  4. As associações e o Centro EA têm chamado as empresas privadas e outras organizações de cariz privado a participarem nos projectos da comunidade?
  5. Será que as nossas associações e o Centro EA não correm riscos de fecharem as portas?
  6. Quais são os nossos principais problemas e que projectos estão em carteira ou em curso para resolvê-los?

É claro que não irei responder as minhas questões. Só as fiz para tentar dar uma visão um pouco mais crítica, mas construtiva, em relação ao desenvolvimento comunitário. Sim não irei responder, mas vou dar instrumentos para que cada um matute.      
Existem algumas abordagens que ajudam a sistematizar e a operacionalizar as principais questões relativas ao desenvolvimento comunitário.


Modelo ABCD – Achieving Better Community Development. (Barr & Hashagen, 2000; The-
Scotish-Government, 2007).
Um exemplo desse tipo de abordagem está presente no Modelo ABCD – Achieving Better Community Development, proposto pelo Scottish Community Development Centre (Barr & Hashagen, 2000), que fornece um enquadramento geral aos processos de planeamento, avaliação e aprendizagem das intervenções de desenvolvimento comunitário (Figura em cima), e que assenta nos seguintes pressupostos (CDF, 2006; The-Scotish-Government, 2007):

  • Todos aqueles implicados numa estratégia de desenvolvimento comunitário desde políticos, gestores, financiadores, profissionais, voluntários e membros da comunidade deverão participar activamente no processo;
  • Os métodos e critérios de avaliação deverão reflectir as motivações e objectivos de todos os participantes;
  • A avaliação deverá constituir um elemento essencial do desenvolvimento comunitário, que conformará continuamente o planeamento e a acção;
  • Deverá ser dada particular atenção à capacitação (empowerment) das comunidades e às alterações resultantes na qualidade de vida dos membros da comunidade;
  • A vida comunitária deverá tornar-se mais satisfatória, sustentável e justa.


A abordagem ABCD sugere que o planeamento e a avaliação são cruciais para o desempenho efectivo e que as actividades de desenvolvimento comunitário a avaliação deverão ser conduzida pelos próprios membros da comunidade deste modo, é possível alcançar uma visão partilhada sobre as alterações que deverão ter lugar e o modo como deverão ocorrer.

O desenvolvimento comunitário faz-se com acção com vista à melhoria da qualidade de vida de uma comunidade. Comprometo-me a publicar um artigo, dentro em breve, a respeito do desenvolvimento comunitário e gestão de informação.

Faço questão de terminar com uma questão:
Será que nós (safendenses) temos ajudado na melhoria de qualidade de vida dos habitantes da nossa comunidade?

Texto: Altino FERREIRA
Fontes:
·         Ander-Egg, E. (1980). Metodologia y Practica del Desarrollo de la Comunidad (10 ed.). Tarragona: UNIEUROP.

·         Barr, A., & Hashagen, S. (2000). ABCD Handbook: A framework for evaluating community development. London: Community Development Foundation.

·         Carmo, H. D. A. (2007). Desenvolvimento Comunitário (2 ed. Vol. 184). Lisboa: Universidade Aberta.

·         CDF. (2006). Community Development Challenge. Communities and Local Government Retrieved 24.10.2011, from http://www.cdf.org.uk//c/document_library/get_file?uuid=483850bf-ba92-46d0-9bc4-a35c635c5ae3&groupId=10128

·         Curvelo, P. (2009). SIG e comunidades locais. Lisboa: Universidade nova de Lisboa.

·         Ledwith, M. (2005). Community Development - A critical approach. Bristol: Policy Press.

·         Mohan, G. (2001). Participatory development. The Arnold companion to development studies. London, UK, Hodder: 49-54.

·         The-Scotish-Government. (2007). Building Community Capacity. Resources for Community Learning & Development Practice. Retrieved 29.10.2011, from http://www.scotland.gov.uk/Resource/Doc/206381/0054848.pdf

·         VCN. (2009). The Citizen's Handbook - Practical assistance for those who want to make a difference. Retrieved 29.10.2011, from http://www.vcn.bc.ca/citizens-handbook/