segunda-feira, 16 de junho de 2014

VIOLÊNCIA URBANA 10 ANOS DO FENÓMENO: ESCUTANDO VÍTIMAS, AGRESSORES. RESPOSTAS E DESAFIOS PARA A SUA ERRADICAÇÃO. PARTE 2

VIOLÊNCIA: NINGUÉM SAI ILESO. TODOS ESTAMOS AFECTADOS

A conversa iniciou com um pai de família, membro da comunidade, que foi vítima e recordou uma das piores noites passadas, na qual um grupo vandalizou várias casas e ameaçou muita gente, com tiros pelo meio. Na altura, a revolta foi tanta que ele apelou à autodefesa do tipo “cada homem uma arma”, seguindo a moda dos próprios bandidos. Hoje, friamente, o mesmo respira de alívio por isso não ter acontecido, pois seria uma asneira. Porém, sente uma grande tristeza e lamenta porque nada mudou, desde aquela altura. Pelo contrário, afirmou “o medo aumentou de tal forma, que a partir de certas horas, ninguém sair à rua. A situação agravou-se”.

De seguida, falou um jovem que viveu situações de violência no passado. Confessou que há mais de seis anos não vinha ao bairro de Vila nova, por temer pela sua vida pois arranjou inimigos e não pode cruzar-se com eles. Muita coisa teve de mudar. Deixou de estudar e sentiu-se obrigado a mudar a sua rota. O jovem recordou que era um bom aluno, estudioso e com boas notas, mas com péssimo comportamento. Gerou desavenças, inimizades. Foi suspenso das aulas, mas continuava frequentando a escola. No entanto, alertou que da sua mãe recebeu uma boa educação. E insistiu que foi na escola, longe dos olhares da sua mãe, que tudo teria começado, sem que ela desse conta de nada, pois não tinha o hábito de lá ir para saber das coisas…


Com o passar do tempo, caiu em si, e tomou consciência dos seus erros e quer mudar de vida. Para isso, tem de tomar novas atitudes. Evita os caminhos que podem fazê-lo cruzar com antigos rivais, e reflecte sobre os actos cometidos anteriormente. Mas o passado deixou marcas: “Eu sei que é difícil. Muitos não acreditam. Quando alguns se cruzam comigo, provocam-me e ameaçam-me. Procuro não responder. E eles pensam que é covardia”. Na sua opinião precisam reflectir mais: “os jovens precisam ter um pouco mais de consciência. Porque Deus não está no seu coração”.