sábado, 15 de setembro de 2012

Grande entrevista 03 – Gestora da escola EBI de Safende - Helena Carvalho

Helena Carvalho


Tivemos uma Conversa muito descontraída com a Sra Helena Carvalho Gestora da Escola EBI de Safende nos últimos 4 anos, qual convidamo-vos a apreciar. Boa leitura!

SAFENDEONLINE: Mais um ano lectivo que passou, como foi?
HELENA CARVALHO: Foi um ano tranquilo, o balanco é francamente positivo. Obtivemos uma taxa de aprovação de 97%, reprovação baixa e combatemos afincadamente o abandono e tivemos êxito pois o abandono foi zero.


So: Qual foi o momento mais alto do ano lectivo?
HC: Podemos considerar momentos de actividades extra-curriculares, a 1ª edição do festival NÔS KRIANSAS. A cerimónia de imposição de fitas foi também um momento marcante, pelas emoções provocadas.


So: Como caracteriza os nossos alunos?
HC: Temos bons alunos, apesar das dificuldades socioeconómicas. Enfrentamos os problemas que todas as escolas enfrentam. Temos alunos que o ambiente familiar, com pais ausentes, é pouco favorável para o seu desenvolvimento. Alunos que praticamente dependem da escola – em termos de carinho, de afectividade  ou da refeição. Realmente temos alunos que os pais saem cedo e chegam noite, por isso passam muito tempo na rua e correm risco de ver tudo aquilo que não devem ver e isto obriga os professores a terem que desdobrar bastante. Fora isso temos excelentes alunos, ou seja superam com êxito estas dificuldades.

So: A Escola está dentro de uma comunidade qual foi a relação escola-comunidade?
HC: A relação escola-comunidade sempre pode ser reforçada. Apesar de sermos um bairro com características especiais, com pais com estilos de vida que pode dificultar o aproximar da escola, sentimos que melhoramos de ano para ano. No início fazíamos reuniões numa pequena sala, depois mudamos para uma sala maior, hoje realizamos encontros no pátio pois cada vez registamos mais maior número de pais que respondem positivamente aos convites. Participam nas actividades, existem infelizmente aqueles que país que precisamos mesmo que venham a escola mas que ainda não vêem, por isso nos obrigam mesmo a deslocar às suas casas.

So: Considera que os pais este ano, foram presentes?
HC: Sim mas existem sempre oportunidades de melhorar, cada vez que trazemos mais um pai/mãe para escola a satisfação é enorme pois seguramente terá impacto no desempenho do aluno.

So: Os alunos de 6º são especiais. Duplo sentimento: se transitarem deixarão a escola rumo ao liceu, se reprovarem é tristeza para a escola…tivemos 100% de aprovação nesse nível, que sentimentos?
HC: Sentimento de missão cumprida. A fase de 5º e 6º ano é de facto especial. E denotamos muitos desafios nesses alunos principalmente para os que já tinham experiencia de reprovação. Pois  para estes alunos isso implica que entrem já na fase de adolescência, com toda a sua complexidade e o risco de abandono é elevado. Houve caso de uns que tivemos de ir buscar em casa. A nossa preocupação com abandono foi clara e conseguimos assegurar de facto que todos transitassem com apoio daquela rede na escola.

So: Falando de rede, a escola tem uma rede de apoio?
HC: A escola tem uma rede composta por pessoas jovens da Associação Solidária para Desenvolvimento de Safende, do Espaco aberto Safende, ex-professores, a Comunidade de Sant´Egidio, pais e mesmo professores dão aquele mais para escola e somos muito agradecidos por isso.

So: Em termos de programas/actividades extracurriculares, o que é que a escola tem?
HC: As condições da escola neste momento não facilitam muito. Mas nós achamos que actividades curriculares são muito importantes. Apesar de não termos recinto desportivo, com apoio de um professor motivado, foi possível fazer actividades desportivas. Nossos alunos tiveram de treinar em Ponta de Agua ou Achada São Filipe e das nossas participações conseguimos lugares importantes como segundo lugares e mesmo ganhamos competição. Na escola identificamos alunos com queda para música ou expressões plásticas…caso tivéssemos espaço para ocupar essas crianças no período contrário seria algo da salutar. Mesmo que para simples actividades de pintura, acompanhamento por jovens voluntários que são disponíveis, fazer pequenos trabalhos, oferecer lanche, evitaríamos que passassem muito tempo a "pasearem" sem orientação.
Discurso na cerimónia de finalistas 2012
So: Quais o maiores desafios para a nossa escola?
HC: Olha nós constatamos alunos que o período contrario é um tempo de alto risco pois deambulam pela comunidade e vão parar a escola outra vez porque não tem alguém em casa. Então um grande desafio é ter mais espaços, uma sala de recursos, ou biblioteca onde poderíamos acolher mais dignamente esses alunos. Outro desafio é que a escola está próxima de uma ribeira que é muitas vezes transformada em depósito de lixo. Repare que isto é perigoso para a saúde da comunidade educativa toda. Também a proximidade com a estrada e uma passadeira perto de uma curva é outro desafio e nos deixa sempre inquietos também pelo comportamento dos condutores nem sempre dispostos a respeitar. A construção de salas em Alto Safende é um outro importante desafio pois usamos o centro comunitário mas não oferecem melhores condições e está em fase avançada de degradação.

So: Quem é a Helena Carvalho?
HC: Sempre uma professora. A frente da escola, tentei ser uma pessoa aberta a colaborar e trabalhar para melhoria de Safende.

So: Que sonho, que esperança para o próximo ano?
HC: Que continuemos a “pegar” todos juntos, que reine a concórdia e espirito de solidariedade…que sejemos transmitidores de conteúdo e que também formemos os nossos alunos no humanismo. Que valorizemos cada aluno, especialmente aqueles que tem mais fragilidades, que não tem oportunidade de ver paz nas suas casas e que precisamos de falar desta paz. Mantenhamos presente que o futuro de Cabo Verde esta não mãos destes alunos que estão nas nossa mãos.