L está grávida. A indicação medica alerta claramente “GRAVIDEZ
DE RISCO”. Ontem passou o dia todo no hospital e eram por volta das 22h 22h30
quando a pé regressava do hospital da Praia. L tinha ido ao hospital, “antis de
sol sai”, na mão traz a receita medica, os pés parecem inchados, estomago
vazio, a cabeça com tonturas pois não tomara os remedios diários que toma. E enfrenta
o medo de ir a casa numa sub zona do bairro, é que ainda tem “aqueles que ainda
não estão convencidos” e podem querer toma-la aquilo que não tem. Não sabe se
encontrará jantar em casa. O pai e mãe vivem em permanente conflito e demais implicações
dessa situacao. O oportunista desemprego mora ali também.
Animo-me, em 2030, seremos desenvolvidos!
Dino
Com olhar preocupado L assume que tem infecção na sua genitália,
e garante o ter apanhado na rua “mixa na qualquer lugar”, diz vencidamente.
Juntos vamos ao básico um copo de agua fresca e uma sopa
para aliviar o estomago. Para frente temos o caminho a percorrer e rezar que os
efeitos de não ter tomado os remedios não se manifestem, antes de chegar a
casa. Tentariamos um táxi, mas o taxista “ es hora de noti kelkou la ka ta da
pa bai”. Não resta alternativa senão ir caminhando mesmo.
E enquanto caminhamos num silencio cúmplice e “ku Deus na
boca..” E penso em como a minha comunidade ainda não tem efectivamente uma rede
de detecção, prevenção e apoio e acompanhamento, na fraternidade, para as pessoas mais vulneráveis. E a minha
comunidade não é seguramente a pior das comunidades praienses. Passa a minha frente imagens
das zonas e dos ghettos… tranco numa pedra solta no caminho, “poi odjo na caminho” diz me
ela, acendo a lanterna do Alcatel, e concentro para subir…
Esta noite aprendo mais um pouco sobre o nosso estado social de rosto humano!Animo-me, em 2030, seremos desenvolvidos!
Dino