Numa segunda-feira regressei do trabalho para visitar a minha amiga D. Lena, deparei com meu irmão que acabara de sofrer uma agressão com uma arma branca. Socorri-o levando-o ao hospital e acabou por falecer. Foi possível dizer-lhe, antes de perder a consciência, que eu estava com ele e que eu e a nossa família gostamos dele… e perceber bem, na primeira pessoa, que a violência é uma mentira que nos vitima a todos.
Na sequência de um incumprimento de um acordo por parte de um amigo e negligência minha, após 5 anos de colaboração, fui despedido, por justa causa, de uma das boas empresas da nossa praça. Azar!? Abrir-se –me- ia as portas do fascinante mundo das microfinanças e descobriria, com os meus próprios olhos, que, afinal, a economia pode ser mais humana do que pensara.
Fotografei um policial numa brutalidade desnecessária, acabei algemado e presenteado com 3 horas numa cela escura e fedorenta. Azar!? Foi necessário para não ser preciso “fladu fla” para eu saber que a cela dá stress e “ma bu podi bai pára la sem fazi nada”.
Respondi, proporcionalmente e sem desrespeitar, a um email arrogante de uma madame, de seguida, num primeiro momento fui alvo de um processo disciplinar que não teve seguimento e num segundo momento, recebi uma carta comunicando caducidade do meu contrato de trabalho. Azar!? Isto tornou possível entender melhor as ilimitações e o folclore da incompetência, foi oportunidade para ser voluntário no meu bairro a tempo inteiro e ainda permitiu-me tempo e oportunidade para fazer um curso de animação radiofónica de intervenção.
O que poderia ser o maior azar, ter nascido em Safende, foi a maior sorte, pois crescer e viver na “nôs amado zona” permitiu-me transformar no homem que sou hoje.Sem querer disputar se sou o homem mais feliz de Cabo Verde, definitivamente, sou um dos mais sorteados em Cabo Verde e o meu filme preferido é “A vida é bela”. God Bless Cabo Verde.
Fonte
Imagem: Net
Texto: Dino